sexta-feira, 27 de junho de 2014
Rede Gloebbels e você: tudo a ver!
Perda de credibilidade e de negócios:
Globo é a grande derrotada da Copa
Era para ser uma janela de
oportunidades para as empresas de mídia, mas a visão estreita e o partidarismo
que assumiram se voltaram contra elas mesmas
Por Helena Sthephanowitz
Rede Brasil Atual
27 jun 2014
A Copa do
Mundo de Futebol no Brasil deveria ter sido vista como uma oportunidade rara
para as empresas de mídia fazerem bons negócios. Poderiam aproveitar a
visibilidade e o interesse no Brasil pelo evento esportivo de maior
popularidade do planeta para vender ao mundo reportagens, documentários sobre
cada região no entorno das cidades-sede e ampliar os canais de exportação para
produtos jornalísticos e obras audiovisuais.
Mas estas
empresas, quase todas "filhotes da ditadura", perderam esta
oportunidade histórica por visão pequena, provinciana, e pelo vício de tratar
seu próprio negócio como se fosse um partido político, daqueles obrigados a
contestar qualquer ação de um governo o qual querem derrubar nas urnas ou
sabe-se lá como.
Até o início
do Mundial, as tevês, jornalões, revistas e portais alinhados ao pensamento
demotucano detonavam a Copa no Brasil. Óbvio que essa corrente de pensamento do
contra influiu na imprensa estrangeira. Mesmo empresas de comunicação que
tenham correspondentes no Brasil acabam contaminadas pelo que ouvem e veem nas
telas de TV, nas capas de revistas e nas páginas dos jornais de maior
circulação.
Com a chegada
da Copa, cerca de 19 mil profissionais de mídia de diversos países do mundo
desembarcaram no Brasil. Por si só, esse número já mostra o fracasso da
imprensa tradicional brasileira. Quase ninguém quis comprar suas reportagens e
matérias por falta de confiança na narrativa. Todos quiseram ver com seus
próprios olhos, fazendo suas próprias reportagens, tanto esportivas como sobre
outros acontecimentos.
E o aconteceu
é que essa multidão de jornalistas estrangeiros passou a produzir matérias de
todos os tipos com uma visão positiva, sem deixarem de ser realistas, sobre o
Brasil – e suas narrativas foram muito diferentes do que havia sido propagado
até antes da Copa.
As minorais
barulhentas, que protestavam com quebra-quebras localizados e ganhavam grande
destaque na pauta do principal telejornal brasileiro, passaram a ser retratadas
com sua verdadeira dimensão no exterior: sem serem desprezadas, mereceram notas
na imprensa internacional proporcionais à sua relevância.
E a maioria
do povo brasileiro, até então silencioso, explodiu em festa com a chegada da
Copa.
Prejuízo à
própria imagem: JN tenta atribuir à imprensa estrangeira pessimismo contra a
Copa no Brasil
Pois bem. Na
quinta-feira (27), o Jornal Nacional da TV Globo fez uma longa matéria mea
culpa, mas disfarçada, com o título "Clima festivo e sucesso da Copa conquistam manchetes
internacionais".
O
apresentador William Bonner abriu dizendo "Durante meses, os atrasos e os
problemas de organização da Copa do Mundo foram assunto de muitas reportagens
no Brasil e no exterior. Existia no ar uma preocupação generalizada com as
consequências dos atrasos, das obras não concluídas. E os jornais estrangeiros
eram especialmente ácidos nas críticas. Mas o fato é que, aos poucos, desde o
início desse Mundial, isso tem mudado." Em seguida, citou algumas
reportagens de revistas e jornais europeus e estadunidenses, comparando o
conteúdo antes da Copa, que era negativo, e agora, francamente positivo.
O que o
telejornal fez foi jogar no colo da imprensa estrangeira o que a própria TV
Globo, junto com revistas como Veja e Época, e jornais como Folha
de S.Paulo e O Estado de S.Paulo propagaram incessantemente e
que acabou repercutindo no exterior.
É a inversão
das coisas. É como dizer: "Caros e ingênuos telespectadores, nada do que
nós falamos durante meses sobre um suposto fracasso da Copa era verdade, como
vocês estão percebendo, mas 'existia no ar uma preocupação generalizada' de que
o seria, respaldada na imprensa estrangeira."
Como se vê, o
'tucanismo' da Globo está levando-a à decadência.
Reproduzido
de Rede
Brasil Atual
27 jun 2014
Marcadores:
Copa do Mundo,
Ditadura midiática,
Farsa jornalística,
Fe-lha de São Paulo,
Mídia e poder,
O Estragão,
Rede Globo,
Rede Gloebbels,
Telejornal,
Tucanismo,
Vexame
domingo, 22 de junho de 2014
Pendurô tarde! Agora, #Descedosaltoalto
#Nãovaitersaudade
Pendurô tarde! Agora, #Descedosaltoalto
Tá chegando a hora, Brasil!
Acompanhe Pig Chövinista no Facebook
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Repórter da Globo tenta fazer entrevista tendenciosa e leva o troco
Repórter da Globo tenta fazer
entrevista tendenciosa e leva o troco
Dica de Stanley Burburinho
A jornalista
do Globo, Tatiana Farah (@tatifarah), entrevistou o ex-chanceler mexicano
Jorge Castañeda. Ou ela é mal informada ou jogou cascas de banana em três
perguntas, mas levou 3 tocos como resposta. Vergonha alheia. Veja abaixo as
perguntas e as respostas:
Jornalista: “O Brasil estagnou em
seus anseios econômicos e se encolheu no que diz respeito à projeção
internacional?”
Chanceler: “O Brasil tem um papel
econômico internacional muito importante. É uma voz que se escuta. “
Jornalista: “Os países da Aliança
do Pacífico têm crescido mais que os do Mercosul? Por quê?”
Chanceler: “Isso é falso. O Brasil cresce
mais que o México. E “países do Pacífico” não existem. Há um país grande, que é
o México, há um país mediano, que é a Colômbia, e dois países pequenos, que são
Peru e Chile. Não é certo que os do Pacífico cresceram mais. Essa é uma ficção
criada pelos mercados na mídia internacional. O que se sucede é que as
expectativas sobre o Brasil foram muito elevadas. Afirma-se que o México cresce
mais que o Brasil, mas, no ano passado, o Brasil cresceu mais. E este ano o
Brasil vai crescer mais que o México.”
Jornalista: “Quando a economia
brasileira começou a estagnar, a imprensa internacional passou a dizer que a
nova potência da América Latina seria o México.”
Chanceler: “Isso é um pouco falso. O
Brasil continua recebendo muito mais investimento estrangeiro que o México. A
mídia brasileira é ruim, a mexicana é muito ruim e a mídia internacional,
quando fala de Brasil e do México, é péssima. É muito mau conselho escutar o
que diz a mídia internacional tanto sobre Brasil quanto sobre o México, porque
ela sempre se equivoca.”
Reproduzido
de Meu
Blog de Política
19 mai 2014
Texto
completo em O Globo (15/05/14) on line clicando aqui.
Preconceito e ignorância têm cura: vá se educar!
Preconceito e ignorância têm cura: vá se educar!
BRASIL
Título I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 3º
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV
- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
QUAISQUER OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO.
SANTA CATARINA
Título II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
Art. 4º O
Estado, por suas leis e pelos atos de seus agentes, assegurará, em seu
território e nos limites de sua competência, os direitos e garantias
individuais e coletivos, sociais e políticos previstos na Constituição Federal
e nesta Constituição, ou decorrentes dos princípios e do regime por elas
adotados, bem como os constantes de tratados internacionais em que o Brasil
seja parte, observado o seguinte:
IV - a lei
cominará sanções de natureza administrativa, econômica e financeira a entidades
que incorrerem em discriminação por motivo de origem, raça, cor, sexo, idade,
estado civil, crença religiosa, ORIENTAÇÃO
SEXUAL ou de convicção política ou filosófica, e de outras quaisquer
formas, independentemente das medidas judiciais previstas em lei;”
FLORIANÓPOLIS
Capítulo II
Dos Direitos Sociais
Artigo 5º. O
Município assegurará, em cooperação com a União e o Estado, os direitos
fundamentais do cidadão, observando:
I - proteção
à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice e ao
deficiente;
II - a
promoção e integração no mercado de trabalho;
III - a
habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção à
vida comunitária.
IV - A
igualdade absoluta entre os cidadãos, coibindo a discriminação por motivo de
origem, raça, cor, sexo, idade, estado civil, crença religiosa, ORIENTAÇÃO SEXUAL, convicção política e
filosófica ou outras quaisquer formas.
Que tal um plebiscito para decidir sobre taxar as grandes fortunas?
Uma boa proposta para ser abraçada
pelos candidatos à presidência
O Brasil tem
que ter uma Reforma Tributária, mas não é só decidir pra quem vai o dinheiro
apurado, mas principalmente para dizer DE ONDE vem o dinheiro. O mundo inteiro,
incluindo os EUA, tem impostos para taxar as grandes fortunas. Mas aqui isso
desespera as elites brasileiras, que preferem reclamar e sonegar.
O principal
dos impostos brasileiros está sobre o consumo, ou seja, cai nas costas do
consumidor.
A própria
Constituição, desde 1988, define que tenha um imposto para isso. Mas nada dos
parlamentares regulamentarem esse item tão importante.
Tá na hora
aumentar os impostos dos ricos e diminuir o imposto dos pobres. Cobre de seu
candidato à presidência esse compromisso. Taxar as grandes fortunas é o
primeiro passo para a existência de justiça tributária no Brasil.
Será que
todos os candidatos defendem isso? Cobre do seu. Nem que seja por plebiscito.
Reproduzido
de Política
no Face II
19 jun 2014
Plebiscito para maioridade penal?
Então também quero um para taxar fortunas
Daí eu ligo a
TV e vejo uma propaganda partidária propondo um plebiscito para a redução da
maioridade penal – como se até um marisco com problemas cognitivos não
soubesse que, posta em votação, a medida teria amplo apoio por aqui. Pesquisas
já apontaram que mais de 90% dos consultados toparia encarcerar a molecada com
16 anos ou mais no intuito de viver em uma sociedade mais “justa'' e “segura''
(sic).
A propaganda
é transmitida no momento em que estão rolando acalorados debates sobre as
propostas de novas (e insuficientes, ao meu ver) ferramentas de participação
social por parte do governo federal. Como já disse aqui, é um debate entre
incluir mais atores na política ou ficar com o cheiro de naftalina dos
mesmos de sempre.
Mas é
interessante como muitos políticos que só toleram suor de povo a cada quatro
anos gostam de encher a boca para falar de plebiscito, exortando a
possibilidade de trazer o povo para decidir uma questão.
O que é uma
falácia que até a ostra supracitada não teria problemas em entender.
Porque não
são todos os temas que esses arautos da democracia propõem que sejam
levados a escrutínio público, mas apenas aqueles que mais interessariam a
determinados grupos no poder. Percebendo o apoio popular a determinada medida,
empolgam-se para colocar em votação porque isso legitimaria a sua posição.
Mas, aí,
temos um problema. Uma democracia verdadeira passa pelo respeito à vontade da
maioria, sim, desde que garantindo a dignidade das minorias.
Até porque,
como sabemos, a maioria pode ser avassaladoramente violenta. Se não forem
garantidos os direitos fundamentais das minorias (e quando digo “minoria”, não
estou falando de uma questão numérica mas, sim, do nível de direitos
efetivados, o que faz das mulheres uma minoria no país), estaremos apenas criando
mais uma ditadura.
A população
pede um misto de Justiça e de vingança com as histórias de violência. Olho por
olho, dente por dente. Afinal de contas, aquele bando de assassinos da Fundação
Casa (que não reintegra, apenas destrói) deveria é ser transferido para a
prisão e apodrecer por lá, não é mesmo? Não importa que apenas 0,9% dos jovens
internados na antiga Febem estão envolvidos com latrocínios. Se a gente diz que
a culpa é deles, é porque alguma coisa fizeram de errado.
O problema é
que não há debate público decente sobre a questão, em que haja tempo e calma
para colocar todos os pontos relacionados e tirar uma decisão. O que temos é
gente gritando simplismos na TV e na internet, que não colaboram para
evoluirmos no tema, mas sim para cristalizar preconceitos.
E é
impossível tomar uma decisão racional sobre um assunto sem informação
suficiente sobre ele. Por que ao comprar uma TV você pesquisa a fundo sobre as
possibilidades e ao opinar sobre um assunto de vital importância para a
sua vida você simplesmente compra a posição corrente ou confia em
um analista qualquer (inclusive este que vos escreve)?
É por isso
que as ferramentas de participação popular devem incluir instâncias de debates
e construção coletiva. A ideia é trazer a sociedade para a discussão e não
transformá-la em ferramenta descartável para benefício de alguns.
Nessas horas
me pergunto se estamos prontos para baterias de consultas públicas. Porque ao
jogar para a massa, a dignidade de um grupo pode ir para o chinelo.
Pois o
processo é contaminado uma vez que não são minorias as responsáveis por fazerem
as perguntas levadas à consulta, mas, pelo contrário, quem está no poder.
A maioridade
penal, o direito ao aborto e à eutanásia, a descriminalização da maconha, se
levadas a plebiscito, hoje, perderiam.
Mas, olhe que
interessante: a taxação de grandes fortunas, a auditoria na dívida brasileira
além de algumas medidas bastante severas para distribuição de riqueza
certamente ganhariam.
Agora me
digam: qual grupo de perguntas estaria mais perto de ir a uma consulta? Por
quê?
Reproduzido
do Blog do Sakamoto
19 jun 2014
Sucesso da copa desmascara terrorismo da mídia brasileira
Sucesso da copa desmascara terrorismo da
mídia brasileira
Aeroportos
superlotados, estádios que não ficariam prontos, engarrafamentos intermináveis,
violência, bombas e destruição de manifestantes inconformáveis nas ruas. Essa
era a previsão da mídia brasileira até uns 10 dias atrás. Isso era o repassado
para a imprensa internacional, que reverberou as piores expectativas sobre a
realização da Copa do Mundo no Brasil.
E porquê
fizeram isso? Ora, é a guerra de expectativas que faz parte da política.
Fizeram pra provocar o caos (vai que cola?), para reduzir a presença de
estrangeiros, para aumentar a desconfiança do povo no país (mais do que no
governo). Independente da posição que você tenha sobre a Copa e sobre os
problemas de sua preparação, o bombardeio de más notícias e de pessimismo da
mídia às vésperas do evento é uma clara demonstração de manipulação política.
Uma mídia que precisa, urgente, ser democratizada.
Reproduzido
de Barão
de Itararé . Facebook
20 jun 2014
Antonio Lassance: Por que a direita anda mais raivosa do que nunca?
Por que a direita anda mais raivosa do
que nunca?
Os barões das grandes corporações
midiáticas perceberam que, para haver uma oposição de direita forte, é preciso
uma ampla opinião pública direitista.
Antonio Lassance (*)
Faz tempo que
as campanhas eleitorais são espetáculos dantescos, movidos por baixarias sem
limites. Enquanto o Tribunal Superior Eleitoral fica muitas vezes cuidando da
perfumaria, os dinossauros reinam.
Mas há algo
de novo nesta campanha.
A começar do
fato de que boa parte da perversidade de campanha seguia, antes, o seguinte
roteiro: denúncias na imprensa, primeiro em jornais e revistas, que depois se
propagavam na tevê e no rádio e, finalmente, ganhavam a rua pela ação dos cabos
eleitorais.
Agora, o roteiro
é: denúncias pela imprensa, mas divulgadas primeiro via internet; propagação
pelas redes sociais; repetição pela tevê e pelo rádio e, por último, sua
consolidação pelo colunismo e editorialismo da imprensa tradicional.
Embora essa
imprensa ainda seja, normalmente, a dona da informação, seu impacto é cada vez
menos medido pela audiência do próprio meio - que anda em declínio em
praticamente todos os veículos tradicionais - e mais pela sua capacidade de
propagação pela internet - blogs, redes sociais e canais de vídeo,
principalmente pelo Youtube. E a versão que se propaga da notícia acaba sendo
tão ou mais importante do que a notícia em si.
Antes, as
pesquisas de opinião calibravam os rumos das campanhas. Nesta eleição, a
internet é quem tende a ditar o ritmo. As pesquisas vão servir para aferir,
tardiamente, o impacto de alguns assuntos que ganharam peso na guerrilha
virtual.
Antes, o
trabalho de amaldiçoar pra valer os adversários políticos era feito pelos cabos
eleitorais que batiam de porta em porta. Agora, os cabos eleitorais que caçam
votos perambulam pelos portais de internet, pelos canais de vídeo e entram nos
endereços dos eleitores pelas redes sociais.
Uma outra
diferença, talvez tão decisiva quanto essa, é que a direita resolveu aparecer.
Antes, o discurso da direita era de que não existia mais esse negócio de
"direita x esquerda".
A direita,
finalmente, saiu do armário e anda mais raivosa do que nunca. Em parte, a raiva
vem do medo de que, talvez, ela tenha perdido o jeito de ganhar eleições e de
influenciar os partidos.
Por outro
lado, a direita imagina que a atual campanha petista está mais vulnerável que
em outras épocas. A raiva é explicada, nesse aspecto, pelo espírito de "é
agora ou nunca".
Os
bombardeios midiáticos raivosos têm assumido feições mais pronunciadamente
ideológicas.
Ao contrário
de outras eleições, os ataques têm não só mentiras, xingamentos e destemperos
verbais de todos os tipos. Têm uma cara de pensamento de direita.
Querem não
apenas desbancar adversários. Querem demarcar um campo.
Não é só
raiva contra um partido. É ódio de classe contra tudo e contra todos os que se
beneficiam (e nem tanto quanto deveriam) de algumas das políticas
governamentais.
É ódio contra
sindicatos de trabalhadores, organizações comunitárias, movimentos de excluídos
(Sem Terra, Sem Teto), grupos em defesa de minorias e de direitos humanos que
priorizam a crítica a privilégios sociais e aos desníveis socioeconômicos mais
profundos.
A mídia
direitista tem desempenhado um papel central. Sua principal missão é orientar
os ataques para que eles tenham consequência política e ideológica no seio da
sociedade brasileira.
Como sempre,
a mídia é diretamente responsável por articular atores dispersos e colocá-los
em evidência, conforme uma pauta predeterminada.
Embora seja
uma característica recorrente, no Brasil, a mídia tradicional comportar-se como
partido de oposição, nos últimos anos ela parece seguir uma nova estratégia.
Os barões das
grandes corporações midiáticas brasileiras, com a ajuda de seus ideólogos,
perceberam que, para haver uma oposição de direita forte, é preciso formar uma
ampla opinião pública direitista.
Antes mesmo
de cobrar que os partidos se comportem e assumam o viés de direita, é preciso
haver uma base social que os obrigue a agir enquanto tal.
A mídia
tradicional entendeu que os partidos oposicionistas são erráticos em seus
programas e na sua linha política não por falta de conservadorismo de suas
principais lideranças, mas pela ausência de apelo social em sua pregação.
Em função disso, coisas como o Instituto Millenium se tornaram de grande
importância. O Millenium tem, entre seus mantenedores e parceiros, a Abert
(controlada pelas organizações Globo) e os grupos Abril, RBS e Estadão. O
instituto é também sustentado por outras grandes empresas, como a Gerdau, a
Suzano e o Bank of America.
O Millenium
tenta fazer o amálgama entre mídia, partidos e especialistas conservadores para
gerar um programa direitista consistente, politicamente atraente e socialmente
aderente.
O colunismo
midiático, em todas as suas frentes, é outro espaço feito sob medida para
juntar jornalistas, especialistas e lideranças partidárias dedicadas a reforçar
alguns interesses contrariados por algumas políticas públicas criadas nos
últimos 12 anos.
A estratégia
midiática de reinvenção da direita brasileira representa, no fundo, uma
tentativa desesperada e consciente dessa mesma mídia de reposicionar-se nas
relações de poder, diante da ameaça de novos canais de comunicação e de novos
atores que ganharam grande repercussão na opinião pública.
Com seu
declínio econômico e o fim da aura de fonte primordial da informação, o veneno
em seus anéis tornou-se talvez seu último trunfo no jogo político.
(*) Antonio
Lassance é cientista político.
Créditos da
foto: Charge de Vitor Teixeira
Reproduzido
de Carta
Maior
19 jun 2014
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Revirando o lixo do Banquete do Pig
O telefonema de Johnny Saad para
Fernando Haddad
Paulo Nogueira
Diário do Centro do Mundo
19 jun 2014
“Recebi um telefonema de um dono de
muitos meios de comunicação dizendo que não daria trégua à prefeitura e que
colocaria todos seus veículos contra o IPTU progressivo. Isso não me foi
contado. Isso foi dito.”
Bem-vindo
ao mundo como ele é, Haddad.
Haddad
disse aquilo a jornalistas. Preferiu não dar o nome do empresário. Mas o site
Conversa Afiada logo descobriu de quem se tratava: de Johnny Saad, dono da
Band.
É um
episódio que traz diversas conclusões.
Primeiro,
e antes de tudo, ele mostra como funciona a mídia corporativa. O dono manda
seus empregados defenderem a causa dele próprio, e a sociedade é bombardeada
com um noticiário viciado.
Saad
é dono de imóveis em São Paulo, e isso significa que ele teria que pagar mais
IPTU.
O
brasileiro ingênuo – cada vez em menor número, felizmente – tem uma fé cega
naquilo que ouve, vê e lê na mídia. Não tem ideia dos interesses por trás do
noticiário.
Depois,
há uma questão de moralidade. Saad tem uma concessão pública, a televisão. Como
ele se atreve a usá-la em seu favor?
Algum
tempo atrás, o executivo da ONU que trata da liberdade de expressão, Jacques de
la Rue, notou um fato curioso.
Em
muitos países, o Brasil entre eles, as pessoas que receberam concessão pública
para ter uma tevê ou uma rádio usam isso com a única finalidade de
enriquecerem.
Para
ficar no caso mais dramático, os três herdeiros de Roberto Marinho estão no
topo da lista das maiores fortunas pessoais do Brasil.
Concessão
pública não foi feita para que um pequeno grupo se locuplete.
Por
isso, há necessidade de regras que coíbam abusos e fiscalizem o uso decente de
concessões.
Cristina
Kirchner deu um exemplo de combatividade ao enfrentar a mesma situação na
Argentina, ao preço de um colossal desgaste derivado da resistência feroz do
grupo Clarín.
Mas
não fraquejou e venceu.
Terceiro,
o episódio do telefonema mostra uma coisa importante: na Era Digital, uma boa
forma de tornar públicos absurdos privados é por vazamentos.
Nenhum
órgão das empresas jornalísticas – Folha, Veja, Globo, Estadão – publicaria a
denúncia de Haddad, e os brasileiros não saberiam da brutalidade de Saad ao
telefone.
A
informação foi vazada, e a Band é obrigada a enfrentar a vergonha do telefonema
de seu dono.
Foi
fruto de um vazamento, também, o furo do ano no Brasil: a trapaça fiscal da
Globo na aquisição dos direitos da Copa de 2002. O site Cafezinho publicou a
documentação, passada por alguém inconformado da Receita Federal.
O
Brasil foi ocupado – na acepção do Movimento Ocupe Wall St – pelas companhias
de mídia. Elas se valem de tudo para manter seus privilégios e os do pequeno
grupo a que pertencem. Usam seus empregados como se fossem gado para
propalar mentiras que lhes convêm.
Fui
um deles, aliás.
Vazar
informações que ajudem num processo imperioso de desocupação é um ato que
beneficia toda a sociedade. Que todos que possuem informações relevantes se
lembrem disso.
Reproduzido
de Diáriodo Centro do Mundo
19
jun 2014Leia também:
"Constituição Federal - Capítulo da Comunicação Social" (1988), clicando aqui.
"Ley dos Medios Argentina" - Lei nº 26.522 – Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual –, em 10 de outubro de 2009, clicando aqui.
terça-feira, 17 de junho de 2014
Leonardo Boff: Quem envergonhou o Brasil aqui e lá fora?
Quem envergonhou o Brasil aqui e
lá fora?
Leonardo Boff
Pertence
à cultura popular do futebol a vaia a certos jogadores, a juízes e
eventualmente a alguma autoridade presente. Insultos e xingamentos com
linguagem de baixo calão que sequer crianças podem ouvir é coisa inaudita no
futebol do Brasil. Foram dirigidos à mais alta autoridade do país, à Presidenta
Dilma Rousseff, retraída nos fundos da arquibancada oficial.
Esses
insultos vergonhosos só podiam vir de um tipo de gente que ainda têm
visibilidade do país, “gente branquíssima e de classe A, com falta de educação
e sexista” como comentou a socióloga do Centro Feminista de Estudos, Ana
Thurler.
Quem
conhece um pouco a história do Brasil ou quem leu Gilberto Freyre, José Honório
Rodrigues ou Sérgio Buarque de Hollanda sabe logo identificar tais grupos. São
setores de nossa elite, dos mais conservadores do mundo e retardatários no
processo civilizatório mundial, como costumava enfatizar Darcy Ribeiro, setores
que por 500 anos ocuparam o espaço do Estado e dele se beneficiaram a mais não
poder, negando direitos cidadãos para garantir privilégios corporativos. Estes
grupos não conseguiram ainda se livrar da Casa Grande que a tem entrenhada na
cabeça e nunca esqueceram o pelourinho onde eram flagelados escravos negros.
Não apenas a boca é suja; esta é suja porque sua mente é suja. São velhistas e
pensam ainda dentro dos velhos paradigmas do passado quando viviam no luxo e no
consumo conspícuo como no tempo dos príncipes renascentistas.
Na
linguagem dura de nosso maior historiador mulato Capistrano de Abreu, grande parte
da elite sempre “capou e recapou, sangrou e ressangrou” o povo brasileiro. E
continua fazendo. Sem qualquer senso de limite e por isso, arrogante, pensa que
pode dizer os palavrões que quiser e desrespeitar qualquer autoridade.
O
que ocorreu revelou aos demais brasileiros e ao mundo que tipo de tipo de
lideranças temos ainda no Brasil. Envergonharam-nos aqui e lá fora. Ignorante,
sem educação e descarado não é o povo, como costumam pensar e dizer. Descarado,
sem educação e ignorante é o grupo que pensa e diz isso do povo. São setores em
sua grande maioria rentistas que vivem da especulação financeira e que mantém
milhões e milhões de dólares fora do país, em bancos estrangeiros ou em
paraísos fiscais.
Bem
disse a Presidenta Dilma: “o povo não reage assim; é civilizado e extremamente
generoso e educado”. Ele pode vaiar e muito. Mas não insulta com linguagem xula
e machista a uma mulher, exatamente aquela que ocupa a mais alta representação
do país. Com serenidade e senso de soberania pessoal deu a estes incivilizados
uma resposta de cunho pessoal: ”Suportei
agressões físicas quase insuportáveis e nada me tirou do rumo”. Referia-se
às suas torturas sofridas dos agentes do Estado de terror que se havia
instalado no Brasil a partir de 1968. O pronunciamento que fez posteriormente
na TV mostrou que nada a tira do rumo nem a abala porque vive de outros valores
e pretende estar à altura da grandeza de nosso país.
Esse
fato vergonhoso recebeu a repulsa da maioria dos analistas e dos que saíram a
público para se manifestar. Lamentável, entretanto, foi a reação dos dois
candidatos a substitui-la no cargo de Presidente. Praticamente usaram as mesmas
expressões, na linha dos grupos embrutecidos: ”Ela
colhe o que plantou”. Ou o outro deu a entender que fez por merecer os insultos
que recebeu. Só espíritos tacanhos e faltos de senso de dignidade podiam reagir
desta forma. E estes se apresentam como aqueles que querem definir os destinos
do país. E logo com este espírito! Estamos fartos de lideranças medíocres que
quais galinhas continuam ciscando o chão, incapazes de erguer o voo alto das
águias que merecemos e que tenham a grandeza proporcional ao tamanho de nosso
país.
Um
amigo de Munique que sabe bem o português, perplexo com os insultos comentou: ”nem
no tempo do nazismo se insultavam desta forma as autoridades”. É que ele talvez
não sabe de que pré-história nós viemos e que tipo de setores elitistas ainda
dominam e que de forma prepotente se mostram e se fazem ouvir. São eles os
principais agentes que nos mantém no subdesenvolvimento social, cultural e
ético. Fazem-nos passar uma vergonha que, realmente, não merecemos.
Leonardo Boff professor emérito de Ética
e escritor
Reproduzido
de Leonardo
Boff
17
jun 2014
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Pela democratização dos meios de comunicação e regulação das mídias, já!
Em defesa da democratização dos meios
de comunicação
Entrevista de Venício A. de Lima a
Cláudia Nonato
Observatório da Imprensa
Edição 793 em 08 abr 2014
Trecho
Esse é um dos principais motivos para
não termos uma regulação de mídia no Brasil?
V.A.L. – Não temos porque existe um
círculo vicioso. Temos um sistema de mídia oligopolizado, que é corruptor da
opinião pública, porque privatiza o acesso e exclui do debate público a maioria
da população. Com isso, colabora para esse desequilíbrio na representação da
sociedade civil no parlamento; boa parte dos parlamentares, historicamente
eleitos, está direta ou indiretamente envolvida com as concessões de
radiodifusão e, portanto, com os interesses dos grandes grupos, porque são a
eles afiliados ou diretamente controladores de concessões. E isso se torna um
círculo vicioso, porque os interesses privados dos parlamentares coincidem,
muitas vezes com os interesses dos grandes grupos, e isso realimenta um sistema
que é excludente, oligopolizado, e impede que se altere um processo que
beneficia quem já está nele. É um negócio impressionante. E esse círculo
vicioso não é quebrado.
Isso
aconteceu no processo Constituinte de 1987/88, não é novidade no Brasil. É um
processo, que vem ocorrendo já há muito tempo e não se consegue quebrá-lo,
rompê-lo. Nós celebramos recentemente os 25 anos da Constituição, e o capítulo
V do título VIII da Comunicação Social [ver
aqui] praticamente não foi regulamentado. Existe, inclusive, uma ADO, Ação
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, que o professor Fábio Konder
Comparato elaborou, e está no Supremo Tribunal Federal, pedindo que interceda
para que o Congresso regule as normas da Constituição, que estão lá e não são
regulamentadas.
Por que a regulação dos meios de
comunicação não é debatida pela grande mídia?
V.A.L. – A mídia brasileira não discute
a si mesma. Interessante, porque no processo argentino, por exemplo, como o
domínio do grupo Clarín era tão grande, eles fizeram inclusive campanhas,
usando argumentos que são repetidos aqui. Os mesmos argumentos, o do controle
remoto, o de que as novas tecnologias fazem com que toda discussão sobre
propriedade cruzada já não faça sentido, argumento que inclusive o ministro das
Comunicações tem repetido aqui. A mesma coisa, só que no Brasil não se faz a
discussão, não se faz o debate publicamente. Temos avançado porque as formas
alternativas de acesso a alguma forma de espaço público – sites, blogs, redes,
etc. – têm possibilitado um pouco isso.
O que a regulação da mídia vai trazer
de benefícios para o cidadão comum?
V.A.L. – Essa é uma questão muito
interessante. Recentemente escrevi uma introdução para o livro do Pedrinho
Guareschi [GUARESCHI, Pedrinho A. O direito humano à comunicação. Pela
democratização da mídia. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2013], em que eu falo
exatamente isso. Uma das dificuldades daqueles que lutam pela liberdade de
expressão é traduzir para o conjunto da população essas questões de
Comunicação, de tal forma que as pessoas compreendam que o direito à
Comunicação, o acesso ao debate público, etc., é algo que tem a ver com o
cotidiano de cada um de nós, que nos afeta no dia a dia. É muito difícil fazer
isso, mas existem várias formas de mostrar esses benefícios. Vou começar com um
exemplo simples.
Está na Constituição, no artigo 221, que a programação de
rádio e televisão deve se orientar por alguns princípios. Um deles é a questão
da produção regional. De priorizar a produção regional, feita por cultura
nacional, educativa, e a produção independente. Imagine, num país do tamanho do
nosso, regularizar e disciplinar, por lei, um princípio como esse. Em cada
Estado ou região brasileira, ter estímulo para produção cultural, jornalística,
educativa, local, feita por produção independente local. Isso tem repercussões
na formação profissional, no mercado de trabalho, na economia, porque, por
exemplo, a produção independente vai gerar emprego, terá uma cadeia produtiva
que será criada, incentivada. Isso terá efeito em longo prazo até na identidade
das pessoas, que vão se ver representadas na programação de rádio e televisão.
Isso hoje só acontece em relação aos excluídos, aos pobres, aos miseráveis, que
são motivo de chacota nos programas policiais locais. Hoje há uma consciência
muito maior em relação a isso, mas as implicações da regulação, do que já está
na Constituição, seriam imensas. Imagine, por exemplo, a questão da programação
dirigida às crianças em relação, por exemplo, à alimentação infantil. Há algum
tempo houve uma regulação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
que tentava disciplinar a propaganda de alimentos que tinham excesso de gordura
e açúcar, etc., e a Associação brasileira de empresas produtoras de alimentos
entrou na Justiça, alegando que aquilo a ANVISA não podia regulamentar, porque
era norma constitucional, que tinha que ser regulamentada por lei complementar.
E ganhou.
Na
Lei de Meios argentina, por exemplo, criou-se inclusive um organismo para
cuidar especificamente dessa questão, como existe no mundo inteiro. Isso é que
nós não conseguimos fazer: uma discussão para mostrar a quem tem filho pequeno,
questões desse tipo. A questão do parágrafo V, do artigo 220, que fala que não
pode ter oligopólio, nem monopólio, imagine que, também na lei argentina, há a
reserva de 33% das concessões de rádios e televisão para sindicatos,
universidades, organizações de povos originários, cooperativas, igrejas, uma
alteração desse tipo muda não só o cenário da Comunicação, mas muda o mercado
de trabalho, as profissões, a formação profissional, muda muita coisa na
sociedade. No entanto, isso é muito difícil de as pessoas perceberem.
Sobretudo, quando se naturaliza um processo como se ele fosse único, e não discute
as alternativas que se pode ter para um processo que já está aí há muito tempo.
Então, os benefícios para a população são imensos, só que muitas vezes é
difícil mostrá-los.
Texto completo clicando aqui.
Reproduzido da revista Comunicação &
Educação
V.19, n.1 (jan-jun 2014) e aqui.
Departamento de
Comunicações e Artes da ECA-USP
Também publicado em Observatório
da Imprensa
Edição
793 em 08 abr 2014
Leia também:
"A comunicação como direito fundamental", por Venício A. de Lima (29/10/2013) no Observatório da Imprensa), clicando aqui.
A elite reserva ao país o mesmo lugar exortado à Presidenta
A
elite reserva ao país o mesmo lugar exortado à Presidenta
A
virtude, a civilização, a sorte do desenvolvimento e os destinos da sociedade
há muito deixaram de interessar a elite brasileira.
Saul
Leblon
Quando
a elite de uma sociedade se reúne em um estádio de futebol e a sua manifestação
mais singular é um coro de ofensas de baixo calão, quem é o principal atingido:
o alvo ou o emissor?
Vaias
e palavrões são inerentes às disputas futebolísticas. Fazem parte do
espetáculo, assim como o frango e o gol de placa. A passagem de
autoridades por estádios nunca foi impune.
O
que se assistiu no Itaquerão, porém, no jogo inaugural da Copa, entre Brasil e
Croácia, não teve nada a ver com o futebol ou deboche, mas com a disputa
virulenta em curso pelo comando da história brasileira.
Sem
fazer parte da coreografia oficial o que aflorou ali foi a mais autêntica
expressão cultural de um lado desse conflito, nunca antes assumido assim de
forma tão desinibida e ilustrativa.
Encorajado
pelo anonimato, o gado OP (puro de origem) mostrou o pé duro dos seus valores.
Dos
camarotes vips um jogral raivoso e descontextualizado despejou sua bagagem de
refinamento e boas maneiras sobre uma Presidenta da República em missão
oficial.
Por
quatro vezes, os sentimentos de uma elite ressentida contra aqueles que
afrontam a afável, convergente e impoluta lógica de sociedade que vem
construindo aqui há mais de cinco séculos, afloraram durante o jogo.
Foi
assim que essa gente viajada, de hábitos cosmopolitas, que se envergonha de um
Brasil no qual recusa a enxergar o próprio espelho, ofereceu a um bilhão de
pessoas conectadas à Copa em 200 países uma síntese dos termos elevados com os
quais tem pautado a disputa política no país.
Que
Aécio & Eduardo tenham se esponjado nessa manifestação dá o peso e a medida
do espaço que desejam ocupar no espectro da sociedade brasileira.
Dias
antes, o ex-Presidente Lula havia comentado que nem a burguesia
venezuelana atingira contra Chávez o grau de desrespeito e preconceito
observado aqui contra a Presidenta Dilma.
Houve
quem enxergasse nessas palavras uma carga de retórica eleitoral.
A
cerimônia da 5ª feira cuidou de devolver pertinência à observação.
A
formação virtuosa da infância, o compromisso com a civilização, a sorte
do desenvolvimento e os destinos da sociedade há muito deixaram de
interessar à elite brasileira.
A
novidade do coro contra Dilma é refletir o desejo cada vez
mais explícito de mandar o país ao mesmo lugar exortado à
Presidenta.
Ou
não será esse o propósito estratégico do camarote vip ao apregoar o
descolamento da sociedade brasileira de uma vez por todas, acoplando-a à grande
cloaca mundial de um capitalismo sem peias, onde se processa a
restauração neoliberal pós-2008?
Nesse
imenso biodigestor de direitos e desmanche do Estado acumula-se o adubo
no qual floresce a alta finança desregulada, que tem nos endinheirados
brasileiros os detentores da 4ª maior fortuna do planeta evadida em
paraísos fiscais.
Estudos
da The Price of Offshore Revisited, coordenados pelo
ex-economista-chefe da McKinsey, James Henry, revelam que os brasileiros muito
ricos – que se envergonham de um governo corrupto-- possuíam, até 2010,
cerca de US$ 520 bilhões em paraísos fiscais.
O
passaporte definitivo para esse ‘novo normal’ sistêmico requer a
vitória, em outubro, das candidaturas que carregam no DNA o mesmo pedigree da
turma que deu uma pala na festa de abertura da Copa. Não propriamente contra
Dilma, mas contra o que ela simboliza: a tentativa de se construir por aqui um
Estado social que assegure aos sem riqueza os mesmos direitos daqueles
que enxergam no espaço público um mero apêndice do interesse
plutocrático.
A
expressão ‘vale tudo’ descreve com fidelidade o que tem sido e será, cada vez
mais, o bombardeio para convencer o imaginário brasileiro das
virtudes intrínsecas à troca do ‘populismo’ pelo estado de exceção
de direitos e conquistas sociais, em benefício dos livres mercados.
A
mídia está aí para isso, como se viu pela cobertura dos fatos da última 5ª
feira.
Trata-se
de saber em que medida o discernimento social, condicionado por uma esférica
máquina de difusão dos interesses vips, saberá distinguir um caminho que
desvie a nação do futuro metafórico reservado a ela nos planos, agora
explicitados, de sua elite.
A
indigência do espírito público dos endinheirados brasileiros,
reconheça-se, não é nova. Mas se supera.
O
antropólogo Darcy Ribeiro foi um legista obcecado dos seus
contornos e consequências para a formação do país, a sorte de sua gente e a
qualidade do seu desenvolvimento.
Em
um texto de 1986, ‘Sobre o óbvio – Ensaios Insólitos’, o criador da
Universidade de Brasília, e chefe da Casa Civil de Jango, iluminou os traços
dessa rosca descendente, confirmada 28 anos depois, em exibição
mundial, na abertura da Copa de 2014.
"Dois
fatos que ficaram ululantemente óbvios. Primeiro, que não é nas qualidades ou
defeitos do povo que está a razão do nosso atraso, mas nas características de
nossas classes dominantes, no seu setor dirigente e, inclusive, no seu segmento
intelectual. Segundo, que nossa velha classe dominante tem sido altamente capaz
na formulação e na execução de projeto de sociedade que melhor corresponde a
seus interesses. Só que este projeto para ser implantado e mantido precisa de
um povo faminto, xucro e feio. Nunca se viu, em outra parte, ricos tão
capacitados para gerar e desfrutar riquezas, e para subjugar o povo faminto no
trabalho, como os nossos senhores empresários, doutores e comandantes. Quase
sempre cordiais uns para com os outros, sempre duros e implacáveis para com
subalternos, e insaciáveis na apropriação dos frutos do trabalho alheio. Eles
tramam e retramam, há séculos, a malha estreita dentro da qual cresce,
deformado, o povo brasileiro (...) porque só assim a velha classe pode manter,
sem sobressaltos, este tipo de prosperidade de que ela desfruta, uma
prosperidade jamais generalizável aos que a produzem com o seu trabalho.
A
primeira evidência a ressaltar é que nossa classe dominante conseguiu
estruturar o Brasil como uma sociedade de economia extraordinariamente
próspera. Por muito tempo se pensou que éramos e somos um país pobre, no
passado e agora. Pois não é verdade. Esta é uma falsa obviedade. Éramos e somos
riquíssimos! A renda per capita dos escravos de Pernambuco, da Bahia e de Minas
Gerais – eles duravam em média uns cinco anos no trabalho – mas a renda per
capita dos nossos escravos era, então, a mais alta do mundo. Nenhum
trabalhador, naqueles séculos, na Europa ou na Ásia, rendia em libras – que
eram os dólares da época – como um escravo trabalhando num engenho no Recife;
ou lavrando ouro em Minas Gerais; ou, depois, um escravo, ou mesmo um imigrante
italiano, trabalhando num cafezal em São Paulo. Aqueles empreendimentos foram
um sucesso formidável. Geraram além de um PIB prodigioso, uma renda per capita
admirável. Então, como agora, para uso e gozo de nossa sábia classe dominante.
A verdade verdadeira é que, aqui no Brasil, se inventou um modelo de economia
altamente próspera, mas de prosperidade pura. Quer dizer, livre de quaisquer
comprometimentos sentimentais. A verdade, repito, é que nós, brasileiros,
inventamos e fundamos um sistema social perfeito para os qe estão do lado de
cima da vida.
O
valor da exportação brasileira no século XVII foi maior que o da exportação
inglesa no mesmo período. O produto mais nobre da época era o açúcar. Depois, o
produto mais rendoso do mundo foi o ouro de Minas Gerais que multiplicou várias
vezes a quantidade de ouro existente no mundo. Também, então, reinou para os
ricos uma prosperidade imensa. O café, por sua vez, foi o produto mais
importante do mercado mundial até 1913, e nós desfrutamos, por longo tempo, o
monopólio dele. Nestes três casos, que correspondem a conjunturas quase
seculares, nós tivemos e desfrutamos uma prosperidade enorme. Depois, por
algumas décadas, a borracha e o cacau deram também surtos invejáveis de
prosperidade que enriqueceram e dignificaram as camadas proprietárias e
dirigentes de diversas regiões. O importante a assinalar é que, modéstia à
parte, aqui no Brasil se tinha inventado ou ressuscitado uma economia
especialíssima, fundada num sistema de trabalho que, compelindo o povo a
produzir, o que ele não consumia – produzir para exportar – permitia gerar uma
prosperidade não generosa, ainda que propensa desde então, a uma redistribuição
preterida.
Enquanto
isso se fez debaixo dos sólidos estatutos da escravidão, não houve problema.
Depois, porém, o povo trabalhador começou a dar trabalho, porque tinha de ser
convencido na lei ou na marra, de que seu reino não era para agora, que ele
verdadeiramente não podia nem precisava comer hoje. Porém o que ele não come
hoje, comerá acrescido amanhã. Porque só acumulando agora, sem nada desperdiçar
comendo, se poderá progredir amanhã e sempre. O povão, hoje como ontem, sempre
andou muito desconfiado de que jamais comerá depois de amanhã o feijão que
deixou de comer anteontem. Mas as classes dominantes e seus competentes
auxiliares, aí estão para convencer a todos – com pesquisas, programas e
promoções – de que o importante é exportar, de que é indispensável e patriótico
ter paciência, esperem um pouco, não sejam imediatistas. O bolo precisa
crescer; sem um bolo maior – nos dizem o Delfim lá de Paris e o daqui – sem um
bolo acrescido, este país estará perdido. É preciso um bolo respeitável, é
indispensável uma poupança ponderável, uma acumulação milagrosa para que depois
se faça, amanhã, prodigiosamente, a distribuição.
A
classe dominante brasileira inscreve na Lei de Terras um juízo muito simples: a
forma normal de obtenção da prioridade é a compra. Se você quer ser
proprietário, deve comprar suas terras do Estado ou de quem quer que seja, que
as possua a título legítimo. Comprar! É certo que estabelece generosamente uma
exceção cartorial: o chamado usucapião. Se você puder provar, diante do
escrivão competente, que ocupou continuadamente, por 10 ou 20 anos, um pedaço
de terra, talvez consiga que o cartório o registre como de sua propriedade
legítima.
Como
nenhum caboclo vai encontrar esse cartório, quase ninguém registrou jamais
terra nenhuma por esta via. Em consequência, a boa terra não se dispersou e
todas as terras alcançadas pelas fronteiras da civilização, foram
competentemente apropriadas pelos antigos proprietários que, aquinhoados,
puderam fazer de seus filhos e netos outros tantos fazendeiros latifundiários.
Foi assim, brilhantemente, que a nossa classe dominante conseguiu duas coisas
básicas: se assegurou a propriedade monopolística da terra para suas empresas
agrárias, e assegurou que a população trabalharia docilmente para ela, porque
só podia sair de uma fazenda para cair em outra fazenda igual, uma vez que em
lugar nenhum conseguiria terras para ocupar e fazer suas pelo trabalho. A
classe dominante norte-americana, menos previdente e quiçá mais ingênua,
estabeleceu que a forma normal de obtenção de propriedade rural era a posse e a
ocupação das terras por quem fosse para o Oeste – como se vê nos filmes de
faroeste. Qualquer pioneiro podia demarcar cento e tantos acres e ali se
instalar com a família, porque só o fato de morar e trabalhar a terra fazia
propriedade sua. O resultado foi que lá multiplicou um imenso sistema de
pequenas e médias propriedades que criou e generalizou para milhões de modestos
granjeiros uma prosperidade geral. Geral mas medíocre, porque trabalhadas por
seus próprios donos, sem nenhuma possibilidade de edificar Casas-grandes &
Senzalas grandiosas como as nossas".
Reproduzido
de Carta
Maior
14
jun 2014
Assinar:
Postagens (Atom)